domingo, 16 de dezembro de 2018

Mensagem de esperança


Voltando




Pessoal

Antes de mais nada, mil desculpas, fiquei um tempo fora do ar, e confesso que não visito o blog há meses, mas hoje finalmente...

Como já publiquei, passei por momentos difíceis e de depressão profunda, mas no ano passado me levantei, sacudi a poeira e voltei a trabalhar. Claro o blog me ajudou muito, e ver como as informações sobre a NV é importante para as pessoas, me ajudou a reerguer e seguir a vida.

Claro, com a vida retornando ao eixo, novos projetos e desafios apareceram e acabei deixando de lado o blog. Contudo, sempre existe aquele "mas", e o meu "mas" é: parte do meu coração está aqui neste blog e na minha vontade de ajudar.

Mudando de assunto...

Recebi um e-mail lindo, que me deixou bastante emocionada e a pedido da autora, é claro que vou compartilhar com vocês! O relato desta pessoa maravilhosa, que aceitou se abrir sobre algo intimo, profundo e muito acalentador. Muito obrigada Marta! Seu depoimento é um presente e um alivio para nós que buscamos a cura e também apoio para melhorar nossos sintomas.



"Olá Grazie. O meu nome é Marta. Tenho 37 anos e sou portuguesa. Antes de vos dar o meu depoimento sobre o assunto, gostaria imenso de lhe agradecer a perspetiva positiva com que aborda esta doença. Precisamos de encarar este problema com a serenidade e a certeza de que conseguiremos levar uma vida normal. Afinal, todas as pessoas têm as suas limitações.

Sempre fui uma pessoa feliz e bem disposta, sem qualquer sintoma de depressão até que um dia soube que tinha de ser operada ao coração com urgência. Tinha 25 anos na altura. Para alguém que nunca havia tido um problema de saúde, esta foi uma notícia mal recebida. Não obstante a operação ter corrido muito bem e o problema ter ficado definitivamente sanado, a origem de todos os meus problemas atuais começou precisamente nessa altura. Isto porque me tornei numa pessoa ansiosa, preocupada com a minha saúde. Tomei a consciência que não somos eternos… que a qualquer altura o nosso mundo pode desabar.
Enfim, apoderou-se de mim uma enorme crise existencial. Comecei nessa altura a ter enxaquecas com aura cujo fenómeno julgo estar associado à neve visual.

Felizmente, tempos depois da operação, tomei consciência de que não poderia viver num pânico permanente. Que tinha de aceitar as coisas tal como elas são e continuar o meu caminho.

 Mudei de trabalho e de cidade. A mudança fez-me muito bem. Recuperei daquele estado depressivo. Anos depois volto a ser operada de urgência, desta vez à vesicula. O referido estado de espírito regressou. Tornei-me numa pessoa nervosa, ansiosa e com ataques de pânico.

Tenho a sorte de ter um marido incrível (na altura meu namorado). Ajudou-me a recuperar a minha essência. Voltei a ser uma pessoa confiante. Até que fiquei doente e mais de um ano sem diagnóstico. Descobriram que eu tinha endometriose, que para além de nos tirar qualidade de vida, destruía a minha vontade de ser mãe (é uma das principais causas de infertilidade). Os médicos avisaram-me que a única hipótese de ser mãe, seria subter-me a uma operação complicada, seguida de fertilização in vitro.

Quando estava a fazer os exames de preparação para a operação descobriram que eu estava grávida. O milagre que ninguém esperaria. A felicidade apoderou-se do meu  coração, mas meses depois viria a perder o bebé. O meu bebé milagre. O médicos voltaram a definir o plano inicial, mas eu enchi-me de esperança e recusei a intervenção. Meti na cabeça que se já tinha engravidado uma vez, conseguiria fazê-lo novamente. Ninguém acreditou que seria possível. "Milagres só acontecem uma vez" - diziam. Mas nada demoveu a minha esperança e a verdade é que eu engravidei e tive uma linda menina.

Quando ela nasceu, tornei-me obcecada por ela. Era um amor tão grande que eu não conseguia libertá-la. Não queria que ninguém lhe tocasse por achar que  era preciosa demais. Foi-me diagnosticada uma depressão pós parto. Tomei medicação durante um ano e depois deixei. Voltei a ser a Marta de antigamente. Regressei à minha vida normal.

Quatro anos depois resolvi tentar engravidar novamente. Mais uma vez, contra todas as expectativas, consegui. Outra menina! Uma felicidade imensa. Deus tinha ouvido as minhas preces. Tive uma gravidez muito complicada. O parto correu muito mal. A bexiga rasgou-se. Eu e a bebé corremos risco de vida. Com cesariana, a bebé saiu ilesa. Eu tive de ser operada. Foi um pós operatório muito difícil. Estive imenso tempo debilitada sem conseguir tomar conta das minhas filhas. Tudo isso mexeu imenso comigo.

 Um dia, no dia 31 de Outubro de 2017 para ser mais precisa, percebo que não estava a ver as coisas com nitidez. Parecia que estava a ver a estática de uma TV. Fui ao oftomologista. Não foi diagnosticado nada. "Deve ser cansaço"- disseram-me. Aquele distúrbio estava a perturbar-me cada vez mais. Algo não estava bem. Tentava desesperadamente explicar o meu novo estado, mas ninguém compreendia. Apoderou-se novamente de mim um estado depressivo. Fui ao médico. Fiz todos os exames e mais alguns. Nada. Não tinha nada. Estaria a ficar louca? Talvez, pensei. A médica receitou-me antidepressivos. Devia estar novamente com uma depressão. Não contente com o diagnóstico, procurei informação na Net … e descobri a Neve Visual.

Identificava-me na perfeição com os sintomas. O meu coração disparou. Meu Deus, é isto que eu tenho e pior, não tem cura. Entrei mesmo num estado depressivo. Com uma filha de 4 anos, outra recém nascida e com uma tremenda depressão. Depois de tudo, agora também tinha Neve Visual. 

Fui a uma Neurologista. Falei-lhe nos meus sintomas, sem contar o que já tinha lido sobre a NV. Ela confirmou a minha suspeita. Disse-me que sofria de uma condição rara - Visual Snow - para a qual não foi descoberta cura. Disse-me que tinha um único doente com esse problema, filho de um neurologista, seu colega e amigo.

Na altura, a médica fez um comentário, vendo agora que não foi inocente, que  me pareceu muito rude, porque parecia que não estava a dar importância ao meu problema, mas que acabou por me ajudar imenso. Disse-me "Mas para além dessa impressão na visão, consegue  fazer a sua vida normal, certo? Consegue ver como as suas filhas são lindas, consegue ir trabalhar, consegue apreciar uma viagem, uma ida à praia, um bom livro e tantas outras coisas, certo? Ao contrário de outras doenças que impossibilitam as pessoas de ver por completo, de andar, de viver com autonomia,essa continua a permiti-la apreciar a vida. A depressão também é uma doença incapacitante. Vai querer mais um problema na sua vida? Marta, isto é apenas uma "impressão" na sua vista e poderá contar comigo para falar dela quando quiser." Aquela conversa marcou-me. Passou quase um ano. Desisti de ler muitos comentários de portadores de NV por serem tão negativos, já deixei os antidepressivos e vivo um dia de cada vez com a certeza que Deus nunca me abandonou. Deu-me um marido e duas filhas maravilhosas que eu tanto amo. Não deixarei que uma "impressão na vista" atrapalhe os meus planos de ser feliz. Se a NV já não me incomoda? Claro que incomoda. Mais nuns momentos do que noutros, é certo. Hoje estou num desses dias em que me incomoda mais (o stress é nosso inimigo), mas nunca deixarei de ter a esperança que um dia, se não descobrirem uma cura, que pelo menos confirmem que o que nós vemos não é alucinação. Que nós temos uma espécie de super poderes que nos permite ver partículas/ pontos de energia de que somos todos feitos, mas que nem todos têm o privilégio de ver :). Não estamos sozinhos. Temo-nos uns aos outros. Por isso é tão importante que hajam lugares destes para desabafarmos e nos ajudarmos mutuamente, sobretudo em dias como o de hoje. Dias em que fico um pouco mais aborrecida com esta "impressão". Um beijinho para vocês. "

Muito obrigada Marta!